A Descoberta da Fifi

Olá olá ☺ , começo por me apresentar, sou a Fifi (abreviação de Finostoica urubim) e vou contar-vos a minha história. Espero que gostem e que vos sirva de inspiração.

Nasci em Urumbuns Finisterra, no sitio onde todas as criaturas Finostoica urubim nascem, no sitio que nem é perto, nem é longe, nem é escuro, nem é claro. Onde os dias não têm dias e as noites não têm noites. Um sitio perfeito para nós vivermos e onde podemos ser felizes à boa maneira das Urubins e que só nós conhecemos.

Somos seres calmos e simples, não gostamos de confusões, nem de muito barulho e vivemos em harmonia com o que nos rodeia. As nossas tarefas e funções são decididas a partir do momento em que nascemos, dependendo da nossa cor (as Finostoica urubim podem nascer com uma cor qualquer desde que esteja na paleta do arco-iris) e toda a nossa vida decorre sem sobressaltos ou surpresas. Quer dizer…. decorria até eu nascer, pois eu era diferente de todas as da minha espécie. Nasci multicolor, enquanto que todas as outras tinham apenas uma cor e isso gerou logo confusão. Sendo de várias cores, não sabia bem qual era a minha função e isso deixava-me triste porque não me conseguia enquadrar em lado nenhum, nem perceber onde podia ser mais útil ☹.

Ora estava aqui, ora era mandada para ali e acabava sempre por ser uma grande confusão!!!

Além disso, gostava de brincar, de saltar, de rir, de fazer coisas novas e diferentes todos os dias, ao contrário das outras Urumbins, que passavam o tempo todo a desempenhar sempre a mesma função, correspondente à sua cor. Que tédio, pensava eu!!!!

Nunca tinha companhia para fazer nada divertido e sentia que me faltava algo, mas não sabia exatamente o quê, só sabia que não era feliz e que precisava de sair dali e descobrir o que me faltava.

Passava os dias sozinha, a saltar. Gostava muito de saltar e era muito boa nisso. Saltava muito e cada dia que passava saltava mais alto e mais longe.

As Urumbim estavam sempre a dizer que qualquer dia dava um salto tão grande, tão grande, que ia acabar por cair longe longe dali e depois não ia conseguir voltar, mesmo que quisesse.

Ao princípio isso deixava-me apavorada, mas depressa cheguei à conclusão que afinal era uma excelente ideia… se não estava bem onde estava, porque não haveria de tentar ir para outro lado??? E se eu conseguia saltar cada vez mais alto e mais longe o que me impedia????? Nunca ninguém me disse que não podia sair daqui, mas também nunca ninguém tinha saído….! Iria a ser a primeira da minha espécie a aventurar-me noutro sitio. Eu gostava da minha comunidade, era um facto, mas precisava de encontrar um sitio onde me sentisse integrada e feliz.

Então, certo dia enchi-me de coragem e comecei a saltar, saltar, saltar cada vez mais alto e cada vez mais longe, até que quando dei por mim, estava bem afastada, mesmo no meio de um parque infantil, em cima de uma coisa alta com uma estrutura de metal, presa por ferros (escada, soube depois) e uma língua de metal, que descobri ser um escorrega, rodeada de seres pequenos (que mais tarde vim a saber serem crianças), muitos sons diferentes e curiosos e dei por mim a sentir algo no peito, algo como uma grande alegria. Nunca tinha visto tantos seres tão diferentes, com muita atividade e ainda por cima, não tinham uma só cor, tinham varias (como eu), nem ouvido tanto barulho e era fantástico e ao mesmo tempo assustador!

No início fiquei sem saber o que fazer, nem como me devia apresentar… sim é verdade… eu tinha de dar uma boa imagem de mim e a apresentação era o início de tudo. Como o meu nome era difícil de pronunciar resolvi apresentar-me como a Fifi Saltitona….o que era absolutamente verdade uma vez que eu tinha ali chegado por saltar muito ☺ ☺ ☺ ☺ ☺.

Depois de ter decidido o meu nome, comecei a procurar a melhor forma de estabelecer contacto com os seres a minha volta, mas por mais que tentasse ninguém me ligava nenhuma. Houve alguns que me passaram a mão por cima, mas iam-se logo embora, sem que eu tivesse tido tempo ou oportunidade de abrir a boca.

Comecei a achar que se calhar a minha ideia não tinha sido muito boa e apesar do meu otimismo inicial, com o decorrer do dia, comecei a sentir-me triste e a pensar que se calhar agora estava bem pior do que quando estava a viver em Urumbuns Finisterra. Tinha-me esforçado tanto para chegar a um sitio destes e agora achava que afinal não tinha sido boa ideia ☹. E assim, sem querer, começaram a cair gotas dos meus olhos (ups, o que é isto??) - descobri mais tarde que era chorar e os humanos fazem-no com muita frequência. Buá Buá Buá Buá….chorarei de tal maneira e pelos vistos tão alto que de repente senti uma vozinha muito suave dizer:

- Está tudo bem contigo? Porque choras tanto e tão alto? Tens algum problema? Posso ajudar?

Olhei para cima para ver quem falava comigo e qual não foi o meu espanto, quando vi um ser, que comparado com alguns outros seres dali era pequenino, mas comparado comigo era gigante, de cara redonda, olhos grandes, bochechas rosadas e duas grandes tranças presas com dois enorme laços, a olhar para mim com uma cara que era uma mistura de espanto e curiosidade.

- Não sei o que estou a fazer, nem o que é isto que esta a sair dos meus olhos, mas estou triste, respondi eu.

Ah, disse ela, está bem….e continuou ali parada a olhar para mim.

Olhei novamente para o pequeno grande ser e pensei...bem, se calhar posso apresentar-me….mas com toda a situação fiquei sem saber o que dizer…!!!

Pela primeira vez em toda a minha vida, fiquei sem palavras e deixem-me que vos diga, não é nada bom de acontecer….fiquei tão nervosa, tão nervosa que até do meu nome me esqueci. ☹ Dá para acreditar, depois de decidir que nome haveria de ter, no momento exato...puf...fugiu-me da cabeça!!! ☹ ☹

Nem queria acreditar no que me estava a acontecer. No entanto, para não dar parte fraca e porque o ser continuava a olhar para mim, fingi ter um ataque de tosse ENORME e MUITOOOOOOOO comprido, enquanto me recompunha do choque e por fim, passado algum tempo, endireitei-me, sorri e disse:

- Chamo-me Fifi Saltitona. E tu? Tens algum nome? E já agora, o que é que tu és?

- Sou a Beatriz e sou uma menina.

UHHH, menina, então aqueles seres pequenos eram meninas… Já tinha aprendido alguma coisa, mas ainda havia tanto para aprender naquele sítio…!!!

Era tudo tão, mas tão diferente de Urumbuns Finisterra, que nem dava para acreditar.

São todas meninas, as criaturas que estão neste sítio? Perguntei.

- Não, alguns são meninos, outras meninas, e os mais altos são os adultos, que tomam conta de nós, crianças.

Boa, boa, mais informação. Começava a achar que se calhar continuar a falar com esta menina era uma boa ideia e que podia aprender muitas coisas mesmo.

Achas que podemos falar mais um bocadinho? Gostava de te fazer muitas perguntas sobre este sítio e perceber o que é.

A Beatriz fez que sim com a cabeça e perguntou:

- Posso tocar-te ou picas? Mudas de cor ou és sempre assim tão colorida? Tens família? São todos como tu?…

As perguntas sucediam-se umas atrás das outras. Tanto eu como a Beatriz estávamos curiosas uma com a outra e queríamos saber tudo. ☺

Conversamos muito e fiquei a saber não só muitas coisas sobre tudo o que me rodeava como sobre a Beatriz. Era muito tímida, mas tinha um sorriso deslumbrante, falava baixo, mas enchia-nos o coração ouvi-la. Não era aventureira, mas foi a primeira a falar comigo o que já se pode considerar uma grande aventura.☺

A dada altura ouvimos alguém chamar a Beatriz e ela disse:

-Tenho de ir para casa lanchar.

Olhei para ela com um ar estranho!!!! Lanchar???? O que é isso???? A que cheira??? Come-se????

Ela começou a rir e disse:

- Se calhar é melhor vires comigo, e assim para além de veres o que é lanchar, aprendes mais coisas. Queres?

É claro que eu queria…

Ela estendeu a mão e la fui eu….toda contente. Estava a ser um dia fantástico e parecia que ainda ia ficar melhor…!

No entanto a Beatriz não se mexeu e começou a olhar em volta e de novo para mim e disse:

- Não podemos ir a lado nenhum porque estamos no cimo do escorrega e eu tenho medo de descer as escadas. ☹

- Desculpa!!!! Se tens medo de descer porque é que subiste até cá acima? Perguntei eu.

Ela respondeu:

- Subi, porque te ouvi chorar e queria ajudar. A vontade de ajudar foi maior que o medo, mas agora que aqui estou, não me parece ter sido muito boa ideia…!!! Quer dizer, gostei de estar a falar contigo e de te conhecer, mas continuo a não gostar de estar em cima do escorrega.

Comecei a pensar o que poderia fazer para ajudar esta menina que parecia ser especial e de grande coração, valente, mas a quem falta a coragem. Pensei, pensei e de repente disse-lhe:

- Olha, já percebi que não gostas de estar aqui, mas não sei o que são escadas e nem sei o que é um escorrega e não estou a entender a situação.

A Beatriz franziu o sobrolho como se não entendesse o que eu estava a dizer.

Escadas, são aquelas coisas metálicas com espaços no meio, para se ir colocando os pés e servem para conseguirmos chegar a sítios mais altos e de difícil acesso. Para se poder andar no escorrega, que é isto onde estamos, precisamos de usar as escadas para vir até aqui acima e depois descemos por aquela língua comprida. O escorrega é um sítio onde as crianças brincam e se divertem.

Fiquei esclarecida com esta explicação, mas ainda não tinha conseguido dizer nem fazer nada para a ajudar a menina. De repente tive um pensamento genial:

- Gostava de te pedir um favor! Eu nunca andei de escorrega e gostava de o fazer, por isso, achas que desta vez e só desta vez podes descer comigo?

A Beatriz pensou um bocado, olhou para as escadas, olhou para o escorrega e com um sorriso tímido disse:

- Bem…! Não gosto muito da ideia, mas como vamos juntas pode ser que não seja assim tão mau…!

E lá fomos as duas, ela cheia de medo e com cuidado e eu completamente estouvada e sem medos. De certa forma senti que da mesma maneira que dei o Salto para chegar ao meu destino, a Beatriz desceu o escorrega para chegar ao seu também.

A Beatriz nem queria acreditar no que tinha acontecido e eu estava tão feliz por ter podido ajudar alguém...nunca antes tinha acontecido. É uma sensação maravilhosa.

Conforme tínhamos combinado, fui com a Beatriz ver o lanche e fiquei maravilhada com a quantidade de cores e formas que a comida podia ter. Até dava pena meter aquilo na boca, mas ela fazia-o sem hesitar. Mesmo curioso.

O mundo da Beatriz era de facto fascinante, complexo e muito sonoro e eu estava ansiosa por saber tudo sobre ele.

A Beatriz achava o máximo as minhas cores e certo dia até convenceu a mãe a comprar uma peruca multicolor. Para quem era tão tímida, como a Beatriz, foi uma verdadeira loucura esta mudança de visual, ainda que muito temporária.

Fomos partilhando cada vez mais e mais uma com a outra e acabando por ir construindo uma bonita relação que hoje sei ser de amizade.

Com esta cumplicidade que se foi criando entre as duas, também compreendi que não temos de ser iguais em tudo para nos podermos dar bem ou nos sentirmos queridos num determinado sitio.

Eu e a Beatriz não podíamos ser mais diferentes e no entanto complementávamo-nos. E gostávamos muito de passar tempo juntas. Eu era impulsiva e destemida e não pensava nas consequências das minhas ações. A Beatriz era ponderada, responsável, cuidadosa e atenta.

Estarmos juntas tornava a vida de cada uma de nós melhor e quanto mais tempo passávamos juntas, maiores e mais fortes se tornavam ao laços que nos uniam, fortalecendo a nossa amizade.

Outra coisa que também percebi foi que, mesmo sendo tão diferente das outras Finostoicas Urumbins, havia algo que sempre me ligou a elas e que não se alterou. As minhas múltiplas cores, eram um pedacinho de cada uma delas em mim e tudo aquilo que eu estava a partilhar com a Beatriz, era um bocadinho da Urumbuns Finisterra e que só mais tarde percebi.

Decidi mais tarde, que iria voltar para casa, pois percebia agora qual era o meu papel na comunidade.

Os conhecimentos que fiz e as historias que vivi permitiam-me ir de coração cheio e com muitas coisas para partilhar.

Além disso, a minha amizade com a Beatriz ajudou-me a perceber e ultrapassar as minhas duvidas quanto ao local onde pertencia e a saber ser responsável. Enquanto que a Beatriz aprendeu a superar-se a si própria.

Despeço-me com um SALTO enorme cheio de carinho e amizade,

A Fifi Saltitona.

This article was updated on agosto 9, 2023

Olá, eu sou a Ana e este é o meu blog, o Baloiço das Histórias. Sempre gostei de ler e escrever.....e sobretudo de andar de baloiço. Espero que o apreciem tanto quanto eu e desfrutem da leitura. Beijos....

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