A Minha Vida Acabou

Desde que comecei a frequentar um estúdio perto de casa, conheci um grupo de pessoas e acabei por me tornar amiga de uma delas. Frequentamos as mesmas aulas, conversamos antes e depois das mesmas, partilhamos informações e para além disso, moramos muito perto uma da outra.

No entanto, apesar de já nos conhecermos e falarmos há algum tempo, nunca chegamos a ter conversas mais profundas e de teor mais pessoal. Acontece que ontem, enquanto esperávamos por uma aula que acabou por não acontecer, decidimos aproveitar o tempo e fomos tomar café e esperar para aula seguinte ☺

Começamos com os assuntos banais de que chatice não ter havido aula, mas ao menos vamos compensar a seguir, etc, etc. e de repente ela diz:

- Tenho mesmo de emagrecer e perder gordura corporal…..nos últimos três anos engordei 20kg…!!!!

E eu pensei que realmente isso seria melhor para a saúde dela e até lhe disse que ela estava mais assídua nos treinos e nas aulas…..eu então, nem por isso ☺

E de repente, a F. diz:

- O meu namorado morreu faz hoje três anos e a minha vida acabou!

Fiquei sem pinga de sangue e sem saber o que lhe dizer…..mas ela continuou a falar, acho que mais para ela do que para mim, que estava lá simplesmente a ouvir.

- Depois dele morrer, tudo correu mal….o emprego era tóxico, a minha casa com imensos problemas, veio o covid, passei o tempo todo sozinha e acabei por engordar e bater no fundo do poço com uma gigante depressão. Quando consegui arranjar coragem para finalmente arrumar as coisas dele, encontrei uma carta que ele me escreveu e nunca chegou a entregar e decidi então mudar de vida e voltar a viver ou pelo menos tentar…..!!!!

Resolvi mudar de casa, começar a fazer exercício a sério, mudei de emprego e voltei a falar e a gostar de estar com algumas pessoas (nessa altura riu-se e disse que eu era uma delas – fiquei feliz por isso).

E durante bastante tempo a F. falou de coração aberto e eu ouvi-a em silêncio, mas com a cabeça a mil.

De certa forma senti-me uma privilegiada por saber que inspirava confiança e empatia, para que esta conversa estivesse a acontecer. Por outro lado, fiquei mesmo abananada com o que lhe tinha acontecido e até com o coração pequenino. Eu sei que, infelizmente, estas coisas estão constantemente a acontecer, mas receber esta partilha tão pessoal, fez-me sentir muito pequenina, mas ao mesmo tempo, com um sentimento de felicidade, privilégio e sorte gigante, pela vida e pelos meus, que felizmente continuam vivos e de boa saúde.

No final, quando nos estávamos a preparar para ir para a aula, a F. disse:

- Obrigada por ouvires e não julgares. Precisava de falar, deitar tudo cá para fora e de me ouvir dizê-las na presença de outro ser humano.

Eu respondi que estava lá sempre que ela precisasse….sem problema nenhum ☺ e que falar faz bem e limpa a alma.

Mesmo depois de ter ido para a casa continuei a pensar na nossa conversa e em tudo o que ela tinha dito.

A vida é efetivamente efémera e tal como nos é dada, sem dar por isso também nos é retirada. É a lei da vida, mas nem por isso, deixa de doer menos.

Preservar quem nos rodeia e nos faz bem, aproveitar o momento e saborear cada pedacinho é o melhor que podemos fazer e não nos arrepender.

Para a F. desejo muita força e coragem para continuar a caminhar. Beijinho no Coração ☺

This article was updated on agosto 14, 2025

Olá, eu sou a Ana e este é o meu blog, o Baloiço das Histórias. Sempre gostei de ler e escrever.....e sobretudo de andar de baloiço. Espero que o apreciem tanto quanto eu e desfrutem da leitura. Beijos....

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